A resistência africana à escravidão se manifestou sob as mais variadas formas. A revolta, apesar de freqüente, era somente uma delas. Este foi o mote da aula do curso Conversando com sua História, promovido pelo Centro de Memória da Fundação Pedro Calmon do dia 16 de junho, com o historiador e escritor João José Reis, no auditório da Biblioteca Pública do Estado (Barris). “Estamos falando de uma Bahia que testemunhou mais de 30 revoltas ou conspirações escravas”, contextualizou o palestrante. Durante a apresentação, João José falou sobre a vida de um africano liberto que circulou pela Bahia do século XIX, personagem principal do seu livro Domingos Sodré, um sacerdote africano e que era um exemplo de resistência escrava que pertencia a um estilo diferente das revoltas. Domingos Sodré era “uma figura contraditória, curiosa e carismática. Ele era um adivinho e fazia, segundo os termos da época, feitiçaria”. A definição do historiador serve para destacar uma das facetas de Sodré que costumava fazer serviços para escravos em troca de objetos retirados das casas dos senhores. “Ele era um sacerdote africano que tinha escravos. Além disto, fazia trabalhos para que os próprios escravos amansassem seus senhores”, ressaltou. O historiador estima que Sodré tenha chegado ao Brasil no início do século XIX, servido pelo menos 30 anos em um engenho e que tenha sido alforriado em 1836. No testamento que ele próprio escreveu em 1882, Sodré aparece como proprietário de duas casas e escravos. Mesmo tornando-se senhor de escravos, Sodré era também chefe de uma junta de alforria, emprestando dinheiro com altos juros para que os escravos comprassem a alforria. “A maioria dos escravos libertos iam viver na miséria. Alguns, entretanto, conseguiam ser senhores de escravo. Domingos Sodré conseguiu decifrar muito bem os signos da nossa cultura. Soube interpretar a psicologia senhorial que envolvia a ideologia do paternalismo”, finalizou. Apesar de permitir que escravos libertos chegassem a possuir outros escravos, a sociedade não lhes dava a cidadania. “Negro nascido do outro lado do Atlântico não podia almejar o poder político”, afirmou João José Reis. Doutor em História pela University of Minnesota (1982), o professor tem um vasto currículo e experiência na área de História do Brasil Império, pesquisando temas relativos à história social e cultural da escravidão, resistência escrava e movimentos sociais. João José Reis recebeu ainda a Comenda do Mérito Científico do Ministério da Ciência e Tecnologia e é Membro Honorário Estrangeiro Vitalício da American Historical Association. Seu livro A morte é uma festa recebeu o Prêmio Jabuti de Melhor Obra, categoria Ensaio, em 1992, e o Prêmio Haring da American Historical Association, em 1997, entre outros. CURSO – Com aulas gratuitas ministradas por importantes historiadores e pesquisadores, o curso Conversando com sua História, promovido desde 2002, pelo Centro de Memória, unidade da Fundação Pedro Calmon/Secult, tem como objetivo promover a História da Bahia e se estende até o mês de outubro, sempre às terças-feiras. Os participantes que tiverem 75% de freqüência receberão certificado. Com a aula de João José Reis, o curso dá um intervalo e retorna no mês de agosto. Entre os temas que serão debatidos no segundo semestre estão: o trabalho visual de Pierre Verger, a trajetória do artista negro Mário Gusmão, o pensamento de Nina Rodrigues, a política de J.J. Seabra e Rui Barbosa, entre outros. Sepre com aulas gratuitas ministradas por especialistas.
Mais informações Centro de Memória: 31176030 /6050 ASCOM Fundação Pedro Calmon: (71) 3116-6918 / 6676
Motivos da escravidão africana no Brasil